Falar de Amazônia sem falar de carne é, no mínimo, uma forma de omitir o essencial.

Fala-se muito em preservar a Amazônia, em conter o desmatamento, em punir quem queima e derruba árvores. Mas raramente se fala sobre por que a floresta está sendo derrubada. A resposta é direta, desconfortável e amplamente conhecida: a principal causa é a pecuária — o pasto para o gado e, em segundo lugar, a produção de grãos para alimentar bois, suínos e frangos.
Por trás de cada pedaço de carne há uma extensa cadeia de impactos: desmatamento, emissões de gases de efeito estufa, uso intensivo de água e grãos, e perda de biodiversidade. A floresta não cai sozinha. Ela cai para abrir espaço para a expansão de um sistema de produção insustentável, movido por um padrão de consumo que já ultrapassou os limites do planeta.
Enquanto o debate ambiental permanecer restrito à “preservação da floresta”, continuaremos tratando apenas o sintoma, não a causa. A verdadeira discussão precisa alcançar o que está no prato. Falar de Amazônia sem falar de carne é, no mínimo, uma forma de omitir o essencial.
Não se trata de culpar o produtor, nem de romantizar soluções individuais — mas de reconhecer que o modelo agroalimentar vigente é parte do problema e precisa ser repensado. É preciso investir em políticas públicas, em educação alimentar, em incentivos à produção vegetal e em mudanças culturais que nos libertem da dependência da carne como centro da alimentação.
A floresta será preservada quando deixarmos de vê-la como obstáculo ao progresso e passarmos a entender que o verdadeiro avanço está em transformar a forma como produzimos e consumimos. A transição não é uma utopia — é uma urgência.

