Projeto de vereador quer disponibilizar Bíblias nas escolas públicas do município Camaquã

Muito se tem discutido sobre a presença da Bíblia Sagrada em escolas públicas. Para alguns, é um atentado à laicidade do Estado. Para outros, uma iniciativa legítima, desde que sem custos ao erário e sem imposição religiosa.
Nesse contexto, de misturar política com religião e Estado com Igreja o vereador Hilson Lucas (Republicanos) apresentou na sexta-feira, 1º de agosto, na Câmara de Vereadores de Camaquã (RS), o Projeto de Lei Legislativo nº 11/2025. A proposta visa disponibilizar exemplares da Bíblia Sagrada nas escolas da rede municipal de ensino. O projeto divide opiniões e está gerando polêmica nas redes sociais.
Ter Bíblias nas escolas não deveria causar escândalo. O Brasil é majoritariamente cristão, e a Bíblia é parte importante de nossa formação cultural, histórica e literária. Negar isso seria uma negação da própria identidade nacional. O problema começa quando esse espaço é concedido apenas a um livro sagrado — e os demais são ignorados, silenciados ou até proibidos.
Alcorão, Bhagavad Gita, Torá, Livro dos Espíritos, textos budistas, indígenas e de matriz africana também fazem parte do panorama religioso de um país plural como o nosso. Se a escola pública é de todos, então todos devem se ver nela representados. E isso inclui o direito de acesso à diversidade de expressões religiosas, inclusive à nenhuma.
Trata-se de um equívoco perigoso querer resolver uma suposta ameaça religiosa com uma caça às bruxas. O combate ao fanatismo não se faz com censura, mas com equilíbrio. Não é retirando a Bíblia que se promove laicidade. É garantindo espaço para todas as fés — e também para o ceticismo.
Se um projeto permite a presença da Bíblia, sem obrigatoriedade, sem uso doutrinário, e sem custos ao poder público, não há violação constitucional. O que seria inaceitável e antidemocrático é impedir que outras crenças possam estar presentes sob o mesmo princípio.
A escola precisa ser um espaço de aprendizado e respeito. A Bíblia pode estar presente, assim como outros livros sagrados, desde que o objetivo não seja catequizar, mas abrir horizontes. A pluralidade não ameaça a laicidade. Ela é, na verdade, o que a sustenta.
Foto: Arquivo Pessoal




